terça-feira, 14 de junho de 2011

Do barro ao corpo – A poesia de Malva Rosa



Por Jonas Sales
Ator, diretor e Prof. do Departamento de Artes Cênicas/UNB

Segundo o cristianismo, o homem veio do barro e a ele voltará, e deste homem de barro foi extraída sua costela e feita a mulher para ser sua companheira, amá-lo e perpetuar a espécie. O espetáculo MalvaRosa fruto do trabalho de alunos do departamento de Artes Cênicas sob o olhar preciso da Professora Alice Stefânia, leva-nos a adentrar no universo do amor e das  não limitações encontradas para se amar. O espetáculo constrói em uma ambientação cenográfica simples, com redes e caixotes de madeira, um agreste sem clichês, poetizando assim, um nordeste possível de identificação. Com uma interpretação dinâmica em que os atores mostram suas diversas faces em revezamento de personagens, que horas tem a delicadeza de mulheres e horas a rusticidade do homem brejeiro, o elenco instiga o olhar do espectador com movimentações físicas, falas e máscaras que preenchem o espaço agreste com força e suavidade ao ponto de fluir sua poesia sem exageros e no ponto certo. A musicalidade ao vivo, que perpassa as cenas, conduz a olharmos um amor entre duas mulheres sem que pensemos em sexualidade e sim, unicamente no ato de amar. Ao percebermos a violência humana contra elas, cravada sinteticamente pelo fogo de fósforos acesos em uma cena que deveria ter força por ser violenta, vemos que a solução cênica encontrada torna mais uma vez sensível o gosto estético para chegar à poesia pontual em todo percurso do espetáculo. E, para finalizar, um beijo em dueto nu - sob uma luz apropriada e eficaz que reforça o romance – depois do que estas mulheres dormem eternamente ao som da Ave Maria, Amém. Assim, estes elementos que esteticamente nos fazem pensar no tradicional como forte elemento referencial para nossa cena contemporânea, fazem de MalvaRosa um espetáculo que leva poesia desde sua maquiagem composta de barro aos corpos que poetizam o amor que vigora na estória, sendo, então, uma poesia que nasce do barro agreste e vai ao corpo de qualquer cidadão aberto a possibilidades de viver boas experiências estéticas, sem dogmas religiosos, e que pensa no amor, unicamente no ato de amar.

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